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Derivadas Parciais e Física Estatística
— 1. O problema —
No outro dia estava ao estudar um pouco de Física Estatística acabei por resolver um exercício. O exercício em questão é do livro Statistical Physics, Second Edition página 66 e o autor é F. Mandl.
A primeira vez que resolvi o exercício fi-lo da forma normal , mas depois percebi algo que acabou por simplificar os meus cálculos e neste post irei exemplificar o que fiz.
O enunciado do problema, traduzido livremente, é:
Um sistema possui três níveis de energia ,
e
com degenerescências
,
. Calcule o calor específico do sistema.
Para resolver este problema primeiro temos que calcular a função de partição .
— 1.1. Primeira resolução —
De notar que o que interessa neste caso são as diferenças de energia e assim podemos tomar .
Após ter calculado a função de partição temos que calcular a energia média, , deste sistema. Por definição é:
Ora por definição é
Derivar esta última expressão em ordem a não é assim tão difícil, mas é muito chato e se não se é cuidadoso a possibilidade de cometer um erro não deve ser descartada.
Tendo em conta que em Física Estatística se tem , vem que
é (é neste ponto que começo a utilizar o truque):
De notar que até agora ainda não derivei a expressão. Tudo o que tenho feito são mudanças de variável, de modo a tornar mais fácil a derivada que se irá calcular.
Esta última expressão já é mais fácil de se diferenciar, mas ainda assim vamos fazer mais uma mudança de variável.
Sim, neste caso, a simplificação não era assim tão grande, mas acho que não se deve perder de vista o facto de que este tipo de raciocínio pode simplificar outras derivações que aparecem frequentemente em Física.
— 1.2. Segunda Resolução —
Tudo isto poderia ser ainda mais simplificado se nos lembrássemos de uma identidade algébrica elementar (agora tomamos ):
Com esta expressão o cálculo de e
é muito mais fácil:
Agora para é
Apesar desta expressão ser relativamente simples de derivar em ordem a do que
vamos utilizar a mesma técnica de mudança de variável que já conhecemos:
Expressão que é aparentemente diferente de . Fica como exercício para o leitor demonstrar a sua igualdade.
— 2. Apêndices —
Nesta secção vamos demonstrar que de facto não depende de qual nível de energia tomamos como sendo
e vamos também demonstrar algumas propriedades das derivadas quando se muda de variável.
— 2.1. Derivadas e mudanças de variável —
Ao longo do post utilizou-se as propriedades das derivadas para mudanças de variável. É objectivo desta secção dar uma curta demonstração das propriedades utilizadas.
Em primeiro lugar imaginemos que temos . É um resultado elementar que
.
Se por acaso for vem que
Se por acaso for vem que
Reescrevendo as equações 1 e 2 em ordem a recuperamos as igualdades utilizadas ao longo do texto.
— 2.2. Independência de relativamente ao nível
de energia —
Nas duas deduções apresentadas para cálculo de tomamos como
o nível de energia que mais convinha. Contudo para termos um post auto-contido convém dar uma justificação do porquê de podermos fazer tal escolha.
Caso tivéssemos escrito a função de partição estritamente de acordo com os níveis de energia que nos haviam fornecido seria .
Numa das resoluções tomamos , obtendo
; enquanto que na outra resolução tomamos
, obtendo
.
Ou seja e
. Este método é prontamente generalizável para
níveis de energias onde se tem
, com
.
O que se pretende demonstrar é que para e
se tem
.