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Topologia – Introdução
Topologia
— 1. Espaços Métricos —
A topologia, literalmente, a ciência da forma, é uma área da Matemática, muito ligada à Geometria e Análise, que têm como objectivo fundamental a análise do conceito de continuidade entre espaços.
Existem duas maneiras de se introduzir uma estrutura topológica em um espaço, a primeira através da noção de distância entre elementos de um conjunto, que passará a ser um espaço métrico, a outra, numa abordagem mais conjuntista e abstracta, utilizando a noção primitiva de conjunto aberto. Nas primeiras aulas abordaremos principalmente a primeira maneira, por ser talvez a mais intuitiva e também por cumprir com os objectivos que preconizamos.
Definição 1 Seja
|
Comentário 1 Ao par |
Do axioma 3 obtemos por indução a desigualdade triangular generalizada:
Um subespaço de um espaço métrico
é obtido se tomarmos o subconjunto
e restringirmos
a
, assim a métrica em
é a restrição
A definição acima nos mostra claramente que em um mesmo conjunto podemos definir várias métricas, ou seja, várias maneiras de se medir distâncias. Um dos conjuntos mais famosos que possui várias distâncias nele definidas é o conjunto dos números reais .
Exemplo 1 1. O conjunto dos Números Reais Esta é com certeza a distância mais famosa em matemática, pois quase toda a análise elementar é feita usando esta métrica e é também bastante intuitiva, vamos provar que os números reais com essa distância é de facto um espaço métrico. Demonstração: (i) Vamos verificar o primeiro axioma, o que é evidente pela definição de módulo. Resta demonstrar a segunda parte do axioma 1, temos então a reciproca é evidentemente verdadeira, se tomarmos (iii)Para demonstrarmos a desigualdade triangular vamos precisar da desigualdade triangular nos reais, i.e., Fazendo uso de um pequeno artifício temos, Então, assim demonstramos que o par |
Exemplo 2 Ao tomarmos qualquer conjunto |
O exemplo a seguir foi tirado do livro an epsilon of room, escrito por Terence Tao, e é muito interessante porque mostra como a partir de duas métricas podemos formar outras métricas, chamadas de métricas produto.
Exemplo 3 Dado dois espaços métricos ou ainda |
Matemática, muito estranha?
“Eis uma questão que merece reflexão: existe mesmo um conhecimento que não dependa da experiência e das impressões dos sentidos?”
Immanuel Kant
Em 2006, o mundo Matemático explodiu, uma notícia aterrizou como uma nave na comunidade científica, a famosa conjectura de Poincaré acabara de ser resolvida, um problema que baralhara as melhores mentes por quase um século e que, embora provada ser verdadeira para muitas dimensões restava ainda uma última pedra a ser colocada no edifício, a terceira dimensão, a nossa, o problema, em linguagem comum ” quais são as formas que um espaço tridimensional imerso em um quadridimensional pode tomar?”, grosso modo, ” quais são as possiveis formas que o nosso universo pode ter?”, acabava de ser resolvida. Seu solucionador, Gricha Perelmam, matemático russo, brilhante, génial e simultaneamente, estranho, recluso, um eremita social, o típico estereótipo de um génio louco, insocial, que não se encaixa na sociedade moderna consumista e individualista, que além de ter ignorado os canais científicos apropriados para a publicação de tamanha descoberta também renunciou as glórias materias que tal descobeta lhe proporcionariam. A comunidade matemática, totalmente desconcertada com a solução quase incompreensível dada por ele, tinha ainda de lidar ao mesmo tempo com a imprensa, já que as lendas haviam começado e especulações surgiam sobre o significado real e práctico da prova de Perelmam. Para alguns, ele mostrava definitivamente qual era a forma do universo, para outros não tanto preocupados com os resultados em si ou com uma análise rigorosa deles, sublinhavam entretanto o facto de que Perelmam era um rebelde, anarquista científico, um Matemático punk, inconformado, que não se dobra as imposições materialistas do capitalismo.
Findo o frenesim, restava ainda uma questão a ser respondida, o que afinal este senhor fez? Qual é o real significado de seu trabalho? E talvez ainda de forma mais estranha, como é que ele um mero mortal, fruto do barro, conseguiu a partir da manipulação de simples rabiscos em um quadro negro inferir as possiveis formas que o universo pode ter? Será que de alguma forma aqueles símbolos estavam vivos? Se sim, o que lhes deu vida, que fogo divino incendiou aquelas fórmulas e as tornou capazes de nos desvendar a realidade? Afinal, porquê a matemática funciona, de uma maneira estranha e curiosa, eficazmente como ferramenta para se descrever o mundo?
Antes de pensarmos sequer em responder às questões acima levantadas, se é que existem respostas para elas, devemos recuar um pouco na história até a pré-história: a nossa história começa em uma gruta, em algum lugar no mundo. Os homens, sempre tiveram a necessidade de prever as coisas, e dessa maneira, o poder de reconhecer padrões na natureza sempre foi uma mais valia que ajudou o desenvolvimento do homem, ao mesmo tempo, as exigências do dia a dia, isto é, o simples acto de agrupamento de animais numa sociedade de colectores exigia deles cada vez mais o reconhecimento de certas relações que haviam entre elas. Não sabemos ao certo quando os homens começaram a contar, apenas podemos especular que o processo, seja a contagem de animais ou outras coisas úteis às comunidade primitivas, eram de certa forma conectadas com as pedras, cada uma delas representando um animal, ou riscos em um pedaço de pau, cada um deles representando um objecto que se quer contar, infelizmente, por mais simples que pareça para nós hoje, o passo decisivo, que era o de se abstrair de todos aqueles métodos o conceito de “número”, não foi feito e os questionamentos mais profundos, seja por limitações da linguagem que estava num processo de desenvolivimento ou por não ser útil, foram simplesmente inexistentes.
O próximo passo foi dado pelas civilizações do Oriente próximo e as sociedades que surgiram a partir delas, lá vemos as primeiras sociededas devotadas ao estudo de pequenas extruturas que lhes permitiam medir coisas, ciência essa que ficou sem nome e que consistia essencialmente numa série de procedimentos mecânicos e algorítimicos. Os Egípcios foram os verdadeiros mestres nisso, afinal as pirâmides exigiam conhecimentos de natureza númerica muito elevada e eles compilaram uma série de procedimentos para se facilitar o processo. Um facto muito interessante e um pouco desconcertante, é que tanto Egípcios, Babilônios, Incas, Aztecas, Chineses e até outros povos na África profunda, chegaram a descobrir as mesmas verdades e relações númericas fundamentais que existiam entre as diversas coisas, um exemplo muito interessante é o famoso teorema de Pitágoras que já era conhecido pelos Chineses e Egípcios, muito antes sequer de Pitágoras ter existido, o que suscita questionamentos profundos, como se de facto estas relações fundamentais sempre estivessem estado aí a espera de serem descobertas e que elas independem totalmente de nossas mentes.
O passo seguinte na evolução desses conhecimentos surge numa zona a que hoje chamamos Grécia, na época, um conjunto de estados vizinhos, que apesar de possuírem a mesma religião, isto é, venerarem os mesmos deuses, falarem a mesma língua e admirarem os mesmos heróis Homéricos, sempre estavam em guerra. Lá, uma classe de mercadores que ia constantemente ao Egipto e entrara em contacto com as descobertas e ideias da civilização faraônica, acabou por causar um renascimento intelectual e talvez a primeira grande revolução significativa no mundo Ocidetal, tomando emprestado os conhecimentos e procedimentos Egípcios para a solução numérica de certos problemas, atribuíram-lhe um nome especial, Matemática, que traduzido do grego significa mais ou menos algo como “inclinado a aprender”. Com os Gregos, levados pela revolução no pensamento que estavam a observar, esse corpo de conhecimentos foi expandido, estudado, sistematizado pela primeira vez, de uma série de procedimentos muitas vezes dispersos, isolou-se uma matriz comum, e criaram-se os axiomas, verdades indubitáveis e evidentes, que serviriam de bloco para a construção de conhecimentos mais complexos, não usando outra coisa, senão a razão, agora sujeita a regras claras de pensamento, a lógica. Nela se destacam dois pensadores geniais, Pitágoras, o famoso matemático, que também era místico e sacerdote de uma seita exotérica, acreditava, após observar o modo como a Matemática estava relacionada com o mundo, que a unidade fundamental da realidade é o número, tudo é número, e as coisas surgiriam pela combinaçâo destes, outro sucessor de Pitágoras, embora não alinhado com suas ideias pouco ortodoxas foi Platão que acreditava que esse mundo era apenas uma cópia imperfeita de uma realidade mais perfeita, o famoso mundo das ideias, acessível ao homem apenas depois da morte, porque o corpo manchado pela carne não podia pois ascender a perfeição, apenas a ideia pura, i.e., a alma, poderia atingir esse mundo, daí concluiu Platão que o que havia em comum, por exemplo, entre um par de sandálias e um outro de pães, era a ideia do número dois, desse modo a Matemática seria um modo de descrevermos a verdadeira realidade, esse mundo inteligivel, que não era aberto aos nossos olhos, assim, a matemática deve existir fora de nossa mente, pois ela faz parte do mundo das ideias, essa visã ficou conhecida como Platonismo e hoje eu posso afirmar com bastante certeza que ela é a visão de boa parte dos matemáticos.
Mas, a evolução levada a cabo pelos gregos, Pitágoras e Platão, por si só não respondeu de maneira satisfatória de o por que ela funcionar de um modo desconcertante, mais tarde Eugene Wigner diria que essa é uma dádiva que nós não merecemos, é que, escondido entre o emaranhado de símbolos algébricos existe um significado e nós sempre retiramos dalí mais do que nós colocamos. Seja com Newton e sua teoria da gravitação que foi verificada como certa em uma parte por milhão, ou as leis de Kepler deduzidas de simples observações pouco rigorosas e cheias de superstições astrológicas, até mesmo a moderna mecânica quântica, que pela natureza quase invisível dos objectos por ela tratados, e do deconhecimento aberrante do modo como eles funcionam, temos de cada vez mais confiar em equações para obtermos um conhecimento do modo como elas realmente se comportam, enfim, a matemática é realmente estranha, e mais estranha ainda é ela funcionar, infelizmente eu não sei as respostas todas, mas eu penso que uma compreensão sobre a estranheza da matemática é um primeiro passo para uma verdadeira compreensão do modo como a realidade funciona. No fundo, ela é o único meio que possuimos para desvendarmos o profundo e escondido no universo, e diriam alguns, talvez ela mesma seja a nossa realidade.
Exercício 1 Prove que as funções dadas abaixo são soluções das equações diferenciais:
|
Exercício 2 Achar os valores de
|
Exercício 3 Se
|
Exercício 4 A tangente de uma familia de curvas em qualquer ponto
|
Exercício 5 Se
|
— 1.2. Teorema de Existência e Unicidade, Interpretações Gráficas —
Na última aula, deparamo-nos com uma equação diferencial que tinha solução, apenas não era única. Hoje começaremos por enunciar o teorema de existência e unicidade para equações lineares de primeira ordem.
Teorema 1 Dada uma equação diferencial ordinária de primeira ordem
Então, existe uma e só uma solução |
Demonstração: Consulte um bom livro de Análise Funcional.
Uma interpretação gráfica deste teorema é que se é uma região na qual as condições especificadas se cumprem, então por qualquer ponto
em
passará uma e só uma curva
cuja tangente em qualquer ponto de
está dada por
. A solução
representa a equação desta curva em
.
Exemplo 10 Este exemplo foi retirado do livro Murray Spiegel (Equações Diferenciais Aplicadas). Determine se existe uma solução única para o problema de valor inicial
Demonstração: Temos
|
— 1.3. Isoclinas ou Campos de Direcções —
Consideremos a equação diferencial
onde a função à direita depende tanto de quanto de
, e saisfaz as condições do teorema de existência e unicidade. Para resolvermos esta equação, se poderia pensar em integrar ambos lados de (4) com respeito a
e
, i.e.,
, infelizmente esta abordagem não conduz à uma solução de (4) porque o integral envolve a mesma função que se quer determinar
.
Exemplo 11 A equação |
Mas, existe um caminho geométrico mais simples para obtermos as soluções da equação diferencial dada .
Em cada ponto da região
podemos construir uma linha com tangente igual a
, ao qual geralmente se chama elemento de linha. Ao fazermos isto para um número suficientemente grande de pontos (campos de direcções da EDO), os elementos de linha representam linhas tangentes a curva solução em cada ponto.
Desta maneira poderemos obter uma representação gráfica da solução sem mesmo resolver a equação. As isoclinas correspondem assim aos pontos onde a iclinação, ou tangente, é constante.
Análise Funcional -Aula 3
— 1.4. Solução dos Problemas Propostos da aula 2 —
Começaremos a aula de hoje solucionando antes os problemas propostos na aula anterior, para quem não teve acesso a aula anterior nós recomendamos que o faça. Para o bem do leitor, muitas vezes darei apenas soluções parciais aos problemas para que dessa forma possas preencher os detalhes que faltam e completar os argumentos.
5.(solução) Basta tomarmos e
e substituirmos na desigualdade de Cauchy.
6.(solução) Podemos tomar e aplicarmos o critério da razão, i.e., para provarmos que ela tende a zendo basta calcularmos o limite da razão com uma sequência que tende a zero. Ao solucionarmos este problema é importante lembrarmo-nos dos conceitos de série e convergência de séries.
7.(solução) Basta tomarmos a conhecida sequencia .
8.(solução) Para a parte a) basta usarmos o facto de que é uma cota superior do conjunto
e usarmos a propriedade
.
b)A primeira implicação é facíl, já que se . A segunda implicação é trivial.
9.(solução) a) Vamos demonstrar apenas que satisfaz a desigualdade triângular.
Sejam temos:
no ultimo passo usamos a desigualdade .
b) Para a segunda métrica também provaremos apenas a desigualdade triângular:
Uma dica do Kreyszig, basta aplicar o seguinte,
10.(solução) Muito simples….
11.(solução) Para a desigualdade triângular use a a desigualdade .
— 1.5. Topologia Básica dos Espaços Métricos —
Em geral, existem duas maneiras de se introduzir uma extrutura topologica num conjunto. A primeira, usando o conceito primitivo de conjunto aberto e a segunda pelo conceito de distância ou métrica. Nós vamos seguir a segunda abordagem.
Definição 6 Dado
|
Comentário 7 É enganoso pensarmos, conforme aconselha o Kreyszig, que as bolas(abertas ou fechadas) em espaços métricos arbitrários não euclidianos possuem as mesmas propriedades que as bolas ou esferas em |
Exemplo 7 Em |
— 1.5.1. Propiedades das Bolas Abertas —
Seja um espaço métrico, então:
Proposição 2 Dadas duas bolas abertas |
Demonstração: A demonstração desse facto é bastante simples. Seja então
logo, .
Proposição 3 Seja |
Demonstração: Seja , se tomarmos
teremos:
Proposição 4 Sejam |
Demonstração: Seja , então pela Proposição anterior existe
, tal que
e
. Seja
, então
Proposição 5 Sejam |
Demonstração: Suponhamos pelo contrário que , então
, logo
Proposição 6 O diâmetro de uma bola |
Demonstração: Sejam e
, então
que é uma cota superior do conjunto das distâncias entre dois pontos, logo:
Definição 7 Dado um conjunto O conjunto de todos os pontos interiores de |
Teorema 7 A colecção de todos os subconjuntos abertos de |
Demonstração: Deixada para o leitor.
Comentário 8 Muitos estudantes, pelas definições acima podem ser levados a pensar que se um conjunto não é fechado então deve ser aberto. Infelizmente este é um grande absurdo, e.g., |
— 1.5.2. Propriedades dos Conjuntos Abertos —
Proposição 8 Toda bola aberta é um conjunto aberto. |
Demonstração: Ver a Proposição 1.3.
Proposição 9 A intersecção de dois conjuntos abertos é um conjunto aberto. |
Demonstração: Sejam e
dois conjuntos abertos e
. Se
, basta tomarmos
, daí
.
Uma generalização da proposição acima é a seguinte:
Proposição 10 Sejam |
Demonstração: Seja para todo
. Então existem
tais que
. Se
então
e
é um aberto.
Comentário 9 Em geral, a intersecção arbitrária de abertos não é um aberto, basta tomarmos, por exemplo, em |
Proposição 11 Sejam |
Demonstração: Deixada como presente para o leitor.
Definição 8 Sejam |
Teorema 12 Uma aplicação |
Demonstração: Deixada para o leitor.
Definição 9 Seja |
Um espaço métrico é separavel se contém um subconjunto denso enumerável. Como recomendação final, propomos que o leitor consulte um bom livro de Análise Funcional e resolva todos os problemas propostos relacionados ao tema tratado hoje.
Análise Funcional – aula 2
— 1.2. Solução dos Problemas Propostos da aula 1 —
Começaremos a aula de hoje solucionando antes os problemas propostos na aula anterior, para quem não teve acesso a aula anterior nós recomendamos que o faça.
1.(solução)
Os dois primeiros axiomas são de facíl verificação, passemos agora para a demonstração da desigualdade triângular,i.e., devemos mostrar que:
Se tomarmos , temos que
, então fazendo uso da desigualdade triângular nos reais
e da desigualdade
, temos:
Assim provamos que a aplicação definida por é uma métrica sobre
.
2.(solução)
a) À primeira vista a aplicação parece ser uma métrica,mas é facil notar que ela não satisfaz a segunda parte do primeiro axioma da definição de métrica,
ou
daí concluimos que a aplicação não é uma métrica em
, mas é facíl verificar que é uma métrica se tomarmos os subconjuntos
ou
.
b)Seja então
logo não é uma métrica.
c)É facíl verificar que os primeiros axiomas são satisfeitos. Para demonstrarmos a desigualdade triângular consideremos primeiramente a função , é de facil verificação que a função
é crescente (usando Cálculo elementar), logo se
, então
Tomando e
, temos o que queremos.
3.(solução)
(i) Se tomarmos , é facíl vermos que:
e que as restantes propriedades são facilmente satisfeitas.
(ii)Do mesmo modo é simples verificar que é uma métrica sse
.
4.(solução) Podemos escrever a desigualdade triângular do seguinte modo:
e a desigualdade contrária segue de
— 1.3. Outros Exemplos de Espaços Métricos —
Bem-vindos a segunda aula de análise funcional, hoje vamos explorar com um pouco mais de profundidade alguns espaços métricos que são de etrema importância para a análise funcional. Para começarmos introduziremos algumas desigualdades famosas e muito úteis, que não serão demonstradas.
Definição 2 Dois expoentes |
Sejam e
dois expoentes conjugados têm-se a seguinte desigualdade de Holder:
Se tomarmos na desigualdade (2) teremos a chamada desigualdade de Cauchy-Buniakovsky-Schwarz:
A desigualdade de Holder (2) é geralmente obtida da desigualdade de Young:
onde e
são conjugados.
Comentário 5 Um corolário trivial da desigualdade acima é o facto de que a média geometrica entre dois números não excede sua média aritmética, para mostrarmos esse facto basta tomarmos |
E por último temos a desigualdade de Minkovsky:
Comentário 6 É importante notarmos que a desigualdade de Mimkovsky não é verdadeira para |
Exemplo 4 Retomaremos um exemplo da aula anterior, relacionado à métrica |
Consideremos agora o espaço ou espaço das sequências
-somaveis definido da seguinte forma:
Reparem que os elementos do espaço são sequências com infinitos pontos, fazendo desse espaço um espaço discreto. É facil verificarmos que a aplicação
é de facto uma métrica, onde e
. A demonstração desse facto é deixada ao leitor, para a desigualdade triângular basta aplicar a desigualdade (5).
Quando o espaço resultante,
, é geralmente conhecido por espaço de Hilbert ou espaço da sequências de quadrado somaveis. Definido da seguinte maneira:
com a métrica definida da seguinte forma:
Além das mencionadas acima, existem muitas outras métricas de extrema importância, até podemos formar metricas de métricas, por exemplo, no primeiro exercício dos problemas propostos na aula passada, nós podemos generalizar, obtendo assim o facto de que se é uma métrica sobre
então a aplicação
também é uma métrica sobre .
Exemplo 5 Consideremos a métrica definida por
sobre o espaço das funções continuas em |
Mostraremos agora que o produto cartesiano de dois espaços métricos
e
, também pode ser transformado em um espaço métrico.
Exemplo 6 Consideremos o conjunto vamos mostrar que o par
(i) É evidente que
(iii)Para demonstrarmos a desigualdade triângular,tomemos |
Como verificamos pelos exemplos acima, a partir de uma métrica podemos formar ou construir outras métricas, passemos agora para novos conceitos.
Definição 3 Seja Se |
Da definição acima segue-se imediatamente que um conjunto é limitado sse
.
Definição 4 Seja |
A ideia de se calcular a distância de um ponto aum conjunto pode ser tornado mais intuitivo ao lembrarmos um pouco de Geometria Análitica, onde calculamos a distância de um ponto a uma recta, que nada mais é que um conjunto infinito de pontos.
Podemos verificar ainda que:
- A definição 1.3 está bem definida, pois o ínfimo existe pois
,
.
- Se
, então
(porque aí bastaria toar
).
Proposição 1 Seja |
Demonstração: Como é uma cota inferior então para todo
temos:
assim é uma cota inferior do conjunto
, logo:
a segunda desigualdade segue multiplicando-se a expressão acima por e fazendo
.
Definição 5 Seja |
Da definição podemos notar que:
- Se
, então
.
- Se
, não implica
.
Por hoje ficaremos por aqui,não se esqueçam de resolver os problemas propostos e em cao de duvida nos contactem, como sempre no inicio da proxima aula resolveremos os problemas propostos.
Problemas Propostos
Exercício 5 Mostre que a desigualdade de Cauchy (3) implica
|
Exercício 6 Encontre uma sequência que converge para |
Exercício 7 Encontre uma sequência que esteja em |
Exercício 8 Mostre que:
|
Exercício 9 Sejam |
Exercício 10 Seja Mostre que |
Exercício 11 Mostre que se também o é. |
Equações Diferenciais Ordinárias – aula 1
Equações Diferenciais Ordinárias
Com a descoberta do cálculo de forma independente no século 17 por Newton e Leibniz, seguiu-se uma nova abordagem a certos problemas que anteriormente pareciam insoluveis. Notou-se que estes problemas levavam a certos de equações em que as taxas de variação das grandezas a determinar dependiam de outras (geralmente do tempo), assim surgiram as primeiras equações diferenciais ordinárias.
Uma equação diferencial é uma equação que envolve derivadas de uma função desconhecida de uma ou mais variáveis. As equações diferencias ordinárias (EDOs) são equações diferencias que dependem de uma única variável. Elas são enormemente útilizadas em Modelagem na industria, principalmente nas áreas de Engenharia, Física, Ciências da Computação, Biologia, Medicina, Ciências Ambientais, Química, Economia e em outros campos que traduzem uma determinada situação física ou um conjunto de observações para um “modelo matemático”.
Existem numerosos exemplos da Engenharia (e.g. problemas de mistura), Física (e.g. lei de resfriamento de Newton, equação de Darcy para meios porosos), Biologia (e.g. sistemas predador-presa ou modelo de Lotka-Volterra) etc..
— 1. Equações Diferenciais Ordinárias Lineares de 1ª Ordem —
— 1.1. Definição e Conceitos Iniciais —
Definição 1 Uma EDO é uma equação com uma ou mais derivadas de uma função desconhecida onde |
O termo ordinária significa que todas as derivadas são tomadas em relação a uma única variável independente ““.
Exemplo 1 |
Comentário 1 É conhecida do cálculo a notação |
Ao contrário das EDOs, as EDPs (Equações Diferenciais Parciais) são equações onde ocorrem as derivadas de uma função desconhecida de uma ou mais variáveis.
Exemplo 2 A equação do calor
onde |
Uma EDO é dita ser de ordem se a
-ésima derivada da função a determinar
é de ordem
.
Exemplo 3
|
Comentário 2 Em geral, uma EDO estabelece a relação entre duas grandezas, mas existem casos em que para relacionarmos estas duas grandezas existe uma terceira, nestes casos a identidade a seguir é bastante útil
onde |
Muitas vezes, uma EDO como a (Equação 1) pode ser apresentada da seguinte forma, chamada de forma normal:
Exemplo 4 A équação |
Definição 2 Uma EDO é dita ser linear se pode ser escrita na forma
onde |
Exemplo 5 |
Definição 3 Uma solução de uma EDO de ordem |
Exemplo 6 Verifique que |
Comentário 3 A curva (ou gráfico) da solução de uma EDO é geralmente chamada de curva solução. |
Exemplo 7 Seja a equação |
Normalmente uma EDO possui infinitas soluções aparecendo geralmente como uma função dependente de uma constante, a qual chamamos de solução geral. Mas em problemas prácticos nós estamos interessados simplesmente em soluções que satisfaçam certas condições iniciais, chamadas de soluções particulares.
Definição 4 Um Problema de Valor Inicial, ou condições iniciais, é um problema que busca determinar uma solução de uma EDO sujeita a condições sobre a função desconhecida e suas derivadas especificadas em um valor da variável independente. |
Exemplo 8 A equação diferencial do exemplo anterior pode ser simplificada se nós buscarmos apenas as soluções que satisfaçam determinada condição (dita condição inicial), e.g., |
Cada vez que se formula um PVI, existem três perguntas em relação a este que devem ser feitas:
- Existência.Existe uma solução da equação diferencial que satisfaça as condições dadas?
- Unicidade.Se existe uma solução que satisfaça a equação, ela é única?
- Estabilidade. A solução depende continuamente dos dados?
As condições acima são chamadas de condições de Hadamard, qualquer PVI que satisfaça as três condições acima é dito ser um problema bem proposto.
Exemplo 9 Consideremos o famoso PVI
temos que a solução geral é
Podemos observar que |
Comentário 4 As soluções que não podem ser obtidas mediante uma escolha qualquer de |
Por hoje nós ficamos por aqui, a partir da proxima aula vamos analisar algumas consequências derivadas do exemplo acima e também o método das isoclinas e outras interpretações geométricas, lista de problemas para esta aula vem a seguir a este post, qualquer duvida ou comentário contacte-nos.
Análise Funcional – Aula I
Introdução à Análise Funcional
A Análise Funcional é um ramo da Matemática abstracta que é basicamente uma junção de Teória da Medida e Integração, Topologia e Álgebra Linear em espaços de dimensão infinita. Ela originou-se a partir de trabalhos em equacções diferenciais Parciais, Equações Integrais e da necessidade de se dar um tratamento mais rigoroso ao estudo dos espaços de funções no século XX.
Ela oferece-nos uma generalização de muitos conceitos de análise em e de outros espaços topológicos e têm servido de base para muitas outras áreas da Matemática Moderna. Durante o século XX matemáticos observaram que problemas de diferentes áreas muitas vezes exibiam propriedades comuns, este facto foi usado para a criação de uma abordagem unificada abstendo-se de uma análise local para a obtenção de resultados gerais dos quais os resultados particulares seguiriam.
Uma das maiores descobertas (ou criação de preferirem) do século XX foi a noção de espaço abstracto em Matemática, devido principalmente a M. Fréchet e F. Hausdorff, que pode ser visto como o culminar de uma onda crescente de abstracção que invadira a Matemática já algum tempo e que teve o seu climax, com justeza, na criação das maiores joias da Matemática.
— 1. Espaços Métricos —
Desde os pimordios da civilização moderna, o homem vem se aperfeiçoando na criação de instrumentos de medida como meios de ajuda na execução de tarefas as quais se propõe realizar. Dentre estes, o cálculo de distâncias sempre foi um dos principais objectivos. Hoje, nós geralmente usamos uma fita métrica para medirmos a distância entre dois objectos, ou podemos fazer uso do teorema de Pitágoras que basicamente nos permite medir a distância entre dois pontos num plano Cartesiano com eixos e
, ou ainda generalizarmos ao introduzirmos uma componente
, passando a ser uma fórmula para medirmos distâncias no espaço (pelo menos o nosso espaço!).
Mas nós nos perguntamos, afinal o que é o espaço? Muitas pessoas normalmente confudem o espaço sideral, isto é, a zona onde se encontram as estrelas e outros corpos celestes com a noção de espaço em si, uma definição simples e um pouco baseada no senso comum é a de que o espaço é o local onde se encontram os objectos, ele é tomado essencialmente como algo no qual estamos imersos, é uma estrutura invisivel que nos engloba não somente a nós, como também todo o universo, uma imagem mental seria a de uma esfera na qual tudo está contido, até porque o universo seria a propria esfera.
No século XX, em Física, com a teoria da geral da relatividade de A. Einstein surge a noção de espaço-tempo, i.e., uma entidade quadridimensional, mostrando assim que as noções de espaço e tempo são essencialmente as mesmas, elas são inseparáveis, conceito esse que é muitas vezes mal compreendido pelas pessoas.
Para um Matemático, o espaço é um conjunto de pontos, é importante notarmos que, embora nós olhemos para o vazio, aparentemente sem nada, na verdade ele está prenchido por pontos, esta noção embora primitiva pode nos ajudar a ganharmos uma pequena intuição para uma generalização.
De uma forma mais rigorosa, em Matemática, um espaço é um conjunto arbitrário munido de uma estrutura. De maneira mais informal, é um conjunto de objectos de qualquer natureza no qual definimos uma estrutura. É importante notarmos que não importa a natureza dos objectos que constituam o conjunto, desde que definamos nele uma estrutura, ele passará a ser um “espaço”.
Exemplo 1 É bem conhecida a noção em Álgebra Linear de Espaço Vectorial, i.e., um conjunto |
É importante notarmos bem os conceitos acima, em Matemática conceitos que nos parecem muito corriqueiros muitas vezes não são o que parecem! Desta forma podemos passar ao passo seguinte que é a introdução da noção de espaço métrico.
Definição 1 Um espaço métrico
|
Comentário 1 Muitas vezes com um abuso de notação obvio, se diz que |
É importante o leitor notar que um espaço métrico não é um conjunto, mas é uma “estrutura”, de tal maneira que em um mesmo conjunto podemos definir métricas diferentes, i.e., . Aos elementos de um espaço métrico chamaremos pontos, independentemente da natureza destes ojectos, sejam eles objectos do nosso mundo físico ou abstractos.
O axioma 1 na definição estabelece o facto evidente que a distância entre dois objectos nunca é negativa, e se ela é igual a zero é porque estes dois objectos são iguais. O axioma 2 também é intuitivo, quer dizer, a distância entre dois objectos e
é a mesma que a distância entre
e
.
Já o axioma 3 é bastante conhecido desde a Geométria elementar e dos três é o menos intuitivo.
Do axioma 3 obtemos por indução a desigualdade triângular generalizada:
Um subespaço de um espaço métrico
é obtido se tomarmos o subconjunto
e restringirmos
a
, assim a métrica em
é a restrição
Comentário 2 A partir de agora, quando não houver perigo de confusão designaremos o espaço métrico pela letra |
— 1.1. Exemplos de Espaços Métricos —
Consideremos alguns exemplos de espaços métricos.
Exemplo 2 1. O conjunto dos Números Reais Esta é com certeza a distância mais famosa em matemática, pois quase toda a análise elementar é feita usando esta métrica e é também bastante intuitiva, vamos provar que os números reais com essa distância é de facto um espaço métrico. Demonstração: (i) Vamos verificar o primeiro axioma, o que é evidente pela definição de módulo. Resta demosntrar a segunda parte do axioma 1, temos então a reciproca é evidentemente verdadeira, se tomarmos (ii)O segundo axioma também é simples de demontrar, (iii)Para demosntrarmos a desigualdade triângular vamos precisar da desigualdade triângular nos reais, i.e., Fazendo uso de um pequeno artifício temos, Então, assim demosntramos que o par Por exemplo se tomarmos dois números quaisquer na recta real,
2. O espaço métrico discreto Vamos mostrar que
3. Métricas sobre o
4. O espaço O par
5. O espaço das sequências limitadas tal que onde onde
6. O espaço onde |
É claro que existem muitos espaços métricos, e como já sabemos sobre um mesmo conjunto podemos definir muitas métricas. Temos também exemplos de como provar se uma aplicação é ou não uma métrica, resta-nos emfim mostrar uma maneira simples de mostrarmos que uma dada aplicação não é uma métrica.
Comentário 4 Em geral, ao tentarmos provar que uma dada aplicação não é uma métrica sobre um conjunto, devemos tentar dar um contraexemplo que demonstre que pelo menos um dos axiomas da (Definição 1.1) não é satisfeita. |
Exemplo 3 Demonstrar que a aplicação não é uma métrica sobre o que é obviamente falso, logo |
Assim chegamos ao fim de nossa primeira aula de Introdução à Análise Funcional, não se esqueçam de resolver os problemas abaixo e em caso de dúvidas nos contactar a partir do blog deixando um comentário, antes da próxima aula postaremos a solução dos problemas.
Problemas Propostos
Exercício 1 Mostre que a aplicação |
Exercício 2 Das aplicações definidas abaixo, demonstre quais delas define uma métrica e para as que não definem dê um contraexemplo:
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Exercício 3 Seja |
Exercício 4 Usando a desigualdade triângular mostre que
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