— 23. A Função de Onda —
Após o artigo anterior onde fizemos uma breve revisão de probabilidades e estatística está na hora de olharmos com algum detalhe para a Mecânica Quântica propriamente dita. Deste modo vamos começar a estudar a função de onda pois este conceito é seguramente o mais importante que vamos encontrar num primeiro curso de Mecânica Quântica.
Assim sendo o objectivo desta secção é introduzir a função de onda da Mecânica Quântica e explicar qual é a sua interpretação física e relevância.
— 23.1. A Equação de Schroedinger —
O objectivo da Mecânica Clássica é derivar a equação de movimento , , de uma partícula de massa
. Depois de determinarmos
as outras quantidades dinâmicas podem ser calculadas através de
.
O nosso problema é então o de calcular ? Na Mecânica Clássica este problema é resolvido através da aplicação do Segundo Axioma de Newton:
Para Sistemas Conservativos temos (anteriormente tínhamos usado
para denotar a energia potencial mas agora iremos usar
).
Assim para a Mecânica Clássica temos:
como a equação que nos ajudará a determinar (desde que conheçamos as condições iniciais).
No que concerne à Mecânica Quântica temos que utilizar a equação de Schroedinger para determinar a equação de movimento que especifica o Estado Físico da partícula em estudo.
Definição 14
A Equação de Schroedinger especifica o Estado Físico de uma partícula em mecânica Quântica
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— 23.2. A Interpretação Estatística —
Uma vez determinada a equação de onda devemos nos perguntar qual será a sua interpretação. Esta pergunta tem uma forte razão de ser uma vez que uma partícula é algo que está localizado enquanto que uma onda é algo que ocupa uma região de espaço
De acordo com a interpretação de Born a função de onda de uma partícula está relacionada coma probabilidade de ela ocupar uma determinada região no espaço.
De forma exacta podemos dizer que é a densidade de proabilidade de encontrar uma partícula entre
e
.
Esta interpretação da função de onda introduz o não determinismo na Mecânica Quântica uma vez que não podemos saber com certeza a posição de uma partícula mas somente a probabilidade de encontrar a partícula num dado intervalo.
O mistério que se apresenta a nós é:
- Onde está a partícula imediatamente após a sua posição ser medida?
- O que acontece antes do acto de medição?
- Onde estava a partícula antes dos nossos instrumentos interagirem com ela e mostrarem-nos a sua posição?
Estas questões têm três respostas possíveis:
- Realista: Um Físico Realista acredita que a partícula estava na posição onde foi medida. Se esta é uma resposta válida então a Mecânica Quântica tem que ser uma teoria incompleta uma vez que não consegue prever que a partícula estava na posição onde foi medida.
- Ortodoxa: Um físico ortodoxo é alguem que acredita que a partícula não tinha uma posição definida antes de ser medida e que é a acção de medição que força a partícula a ocupar uma posição.
- Agnosticismo: um físico agnóstico é uma físico que pensa que não sabe a resposta para esta pergunta e como tal recusa respondê-la.
Até 1964 qualquer uma destas posições era aceitável no mundo da Física. Mas nesse ano John Stewart Bell provou um teorema relacionado com o paradoxo de Einstein-Podolsky-Rosen que mostrou que se uma partícula tem uma posição definida antes da medição então existe uma diferença observável no resultado de algumas experiências (mais para a frente iremos explicar o que queremos dizer com isto).
Assim sendo a posição agnóstica não era mais uma posição respeitável e cabia à Natureza mostrar qual das outras duas opções era a opção verdadeira.
Apesar dos três físicos descritos acima não concordarem com qual era a posição que uma partícula tinha imediatamente antes de ser medida, todos os físicos concordam com qual é a sua posição imediatamente após ser medida. Se em primeiro lugar medimos então a segunda medição também tem que ser
.
Concluindo a função de onda pode evoluir de dois modos:
- Pode ter uma evolução livre de descontinuidades (a não ser que o potencial seja ilimitado em algum ponto) regida pela Equação de Schroedinger.
- Colapsa para um valor único devido a uma medição