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Introdução à Lógica – Lógica Dedutiva e Lógica Indutiva

— 3. Lógica Dedutiva e Lógica Indutiva —

Vamos analisar dois argumentos:

  1. Vejo fumo;
  2. Logo há fogo.

e

  1. Este blog tinha 20 leitores;
  2. Neste momento este blog tem 19 leitores;
  3. Logo, um dos leitores está desaparecido.

Existe um diferença muito importante entre estas duas inferências, e esta diferença espelha a diferença entre dois tipos de Lógica.

Por um lado nós sabemos que a mera existência de fumo não é garantia para a existência de fogo. Apenas torna provável a existência de um fogo.

Assim, inferir a existência de fogo porque visualizámos fumo é um acto razoável, mas não é de todo um acto infalível. É perfeitamente possível a existência de fumo sem ser necessário haver fogo.

A investigação deste tipo de lógica tem o nome de Lógica Indutiva. A Lógica Indutiva estuda o procedimento de inferir conclusões de premissas através de um método probabilístico. Outra forma de definirmos a Lógica Indutiva é dizermos que a Lógica Indutiva estuda argumentos nos quais a verdade das premissas torna provável a verdade da conclusão.

A Lógica Indutiva é um tema fascinante e profundamente rico, mas é também um extremamente complexa. Um dos motivos desta complexidade é o facto dos praticantes desta modalidade da Lógica não estarem em completo acordo entre si sobre quais os atributos de um raciocínio indutivo correcto!

Mas descansem prezados leitores, que a Lógica Indutiva e as suas múltiplas nuances não são o objectivo de estudo destes artigos e vamos somente estudarmos o igualmente rico campo da Lógica Dedutiva.

Voltando ao segundo exemplo, podemos afirmar categoricamente que se as premissas são de facto verdadeiras então a conclusão é necessariamente verdadeira.

No entanto, e só para agitarmos as águas, vamos terminar esta secção introdutória com o seguinte comentário.

Uma vez que na Lógica Dedutiva a veracidade das premissas implica necessariamente a veracidade da conclusão, podemos dizer que a probabilidade da conclusão ser verdadeira é {1}. Assim sendo a Lógica Dedutiva é um subconjunto da Lógica Indutiva. Ou seja, todos os argumentos dedutivos são necessariamente argumentos indutivos, mas um argumento indutivo pode não ser um argumento dedutivo.

— 4. Sentenças e Proposições —

A Lógica investiga inferências sob a forma dos argumentos que representam as inferências em questão. Relembramos que um argumento é uma colecção de sentenças (frases declarativas) onde uma das quais é denominada de conclusão e as restantes sentenças são as premissas.

As sentenças são objectos linguísticos, tal como as palavras. São formadas por sequências de sons ou por sequências de símbolos. As sentenças podem ser distinguidas das proposições que elas expressam (no entanto, muitos filósofos criticam violentamente a noção de proposição). De uma forma simples podemos dizer que uma sentença expressa de forma particular a realidade de algo enquanto que uma proposição expressa a real natureza de algo.

Um exemplo simples que nos permite distinguir uma sentença de uma proposição:

  • O céu é azul
  • The sky is blue
  • El cielo es azul
  • Le ciel est bleu

São todas sentenças diferentes mas que expressam uma mesma proposição. Voltamos no entanto a dizer que vários filósofos que se debruçam sobre este tema de forma intensa são bastante críticos da noção de proposição considerando-a um conceito que só deturpa a análise. Como vemos nem a Lógica Dedutiva que é bastante mais simples que a Lógica Indutiva está livre de controvérsias entre os seus estudiosos…

— 5. Forma e Conteúdo —

Ainda que as proposições estão sempre a olhar por cima dos nossos ombros colectivos, a Lógica Dedutiva tal como a vamos estudar estará mais focada no estudo de sentenças. A motivação para esta abordagem é simples: as sentenças são mais fáceis de interpretar e mais fáceis de trabalhar.

Outro motivo para trabalharmos com sentenças e não com proposições prende-se com o facto de que a Lógica Dedutiva analisa e classifica os argumentos de acordo com a sua forma e não com o seu conteúdo.

Uma sentença é constituída por palavras organizadas por uma ordem particular. Assim, a forma de uma sentença pode ser analisada em termos da disposição das suas palavras constituintes. De forma mais precisa: uma sentença é constituída por termos, que podem ser termos simples ou termos compostos.

Definição 4

Um termos simples é uma palavra a que está associado uma função gramatical.

Exemplos de termos simples são substantivos, verbos, adjectivos, etc.

Definição 5

Um termos composto é uma sequência de palavras que tem a função de uma única unidade gramatical no corpo de uma sentença.

Exemplos de termos compostos são “Presidente da República”.

Para este curso vamos vamos dividir os termos em duas categorias:

  1. Termos descritivos
  2. Termos lógicos

Temos que ter em atenção, no entanto que esta distinção não é absoluta, mas depende essencialmente do nível de análise lógica que estamos a executar. Para o âmbito deste curso vamos tomar em conta três níveis de Análise Lógica:

  1. Lógica Silogística
  2. Lógica Sentencial / Lógica Proposicional / Lógica de Ordem Zero
  3. Lógica de Primeira Ordem / Cálculo de Predicados de Primeira Ordem

Cada nível de análise tem associado a si uma classe especial de termos lógicos. Para a Lógica Silogística os termos lógicos disponíveis são “todo”, “algum”, “não” e “é/são”. Para a Lógica de Ordem Zero os termos lógicos são conectivos de sentenças “e”, “ou”, “se, então”, “se e somente se”. No caso da Lógica de Primeira Ordem os termos lógicos disponíveis são os termos da Lógica Silogística e da Lógica de Ordem Zero.

Voltando ao que foi dito atrás a lógica analisa e classifica argumentos de acordo com a sua forma. A forma lógica de um argumento é função das formas das sentenças individuais que constituem o argumento. Por sua vez a forma lógica de uma sentença da disposição dos seus termos (os termos lógicos são considerados mais importantes que os termos descritivos).

Uma vez que a distinção entre termos lógico e termos descritivo depende do nível de análise que estamos a empregar, assim também a noção de forma lógica também será função do nível de análise empregado.

A diferença entre forma e conteúdo pode ser difícil de entender no abstracto e por isso mesmo vamos dar alguns exemplos concretos no próximo artigo.


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