Introdução à Análise Funcional
A Análise Funcional é um ramo da Matemática abstracta que é basicamente uma junção de Teória da Medida e Integração, Topologia e Álgebra Linear em espaços de dimensão infinita. Ela originou-se a partir de trabalhos em equacções diferenciais Parciais, Equações Integrais e da necessidade de se dar um tratamento mais rigoroso ao estudo dos espaços de funções no século XX.
Ela oferece-nos uma generalização de muitos conceitos de análise em e de outros espaços topológicos e têm servido de base para muitas outras áreas da Matemática Moderna. Durante o século XX matemáticos observaram que problemas de diferentes áreas muitas vezes exibiam propriedades comuns, este facto foi usado para a criação de uma abordagem unificada abstendo-se de uma análise local para a obtenção de resultados gerais dos quais os resultados particulares seguiriam.
Uma das maiores descobertas (ou criação de preferirem) do século XX foi a noção de espaço abstracto em Matemática, devido principalmente a M. Fréchet e F. Hausdorff, que pode ser visto como o culminar de uma onda crescente de abstracção que invadira a Matemática já algum tempo e que teve o seu climax, com justeza, na criação das maiores joias da Matemática.
— 1. Espaços Métricos —
Desde os pimordios da civilização moderna, o homem vem se aperfeiçoando na criação de instrumentos de medida como meios de ajuda na execução de tarefas as quais se propõe realizar. Dentre estes, o cálculo de distâncias sempre foi um dos principais objectivos. Hoje, nós geralmente usamos uma fita métrica para medirmos a distância entre dois objectos, ou podemos fazer uso do teorema de Pitágoras que basicamente nos permite medir a distância entre dois pontos num plano Cartesiano com eixos e
, ou ainda generalizarmos ao introduzirmos uma componente
, passando a ser uma fórmula para medirmos distâncias no espaço (pelo menos o nosso espaço!).
Mas nós nos perguntamos, afinal o que é o espaço? Muitas pessoas normalmente confudem o espaço sideral, isto é, a zona onde se encontram as estrelas e outros corpos celestes com a noção de espaço em si, uma definição simples e um pouco baseada no senso comum é a de que o espaço é o local onde se encontram os objectos, ele é tomado essencialmente como algo no qual estamos imersos, é uma estrutura invisivel que nos engloba não somente a nós, como também todo o universo, uma imagem mental seria a de uma esfera na qual tudo está contido, até porque o universo seria a propria esfera.
No século XX, em Física, com a teoria da geral da relatividade de A. Einstein surge a noção de espaço-tempo, i.e., uma entidade quadridimensional, mostrando assim que as noções de espaço e tempo são essencialmente as mesmas, elas são inseparáveis, conceito esse que é muitas vezes mal compreendido pelas pessoas.
Para um Matemático, o espaço é um conjunto de pontos, é importante notarmos que, embora nós olhemos para o vazio, aparentemente sem nada, na verdade ele está prenchido por pontos, esta noção embora primitiva pode nos ajudar a ganharmos uma pequena intuição para uma generalização.
De uma forma mais rigorosa, em Matemática, um espaço é um conjunto arbitrário munido de uma estrutura. De maneira mais informal, é um conjunto de objectos de qualquer natureza no qual definimos uma estrutura. É importante notarmos que não importa a natureza dos objectos que constituam o conjunto, desde que definamos nele uma estrutura, ele passará a ser um “espaço”.
Exemplo 1 É bem conhecida a noção em Álgebra Linear de Espaço Vectorial, i.e., um conjunto |
É importante notarmos bem os conceitos acima, em Matemática conceitos que nos parecem muito corriqueiros muitas vezes não são o que parecem! Desta forma podemos passar ao passo seguinte que é a introdução da noção de espaço métrico.
Definição 1 Um espaço métrico
|
Comentário 1 Muitas vezes com um abuso de notação obvio, se diz que |
É importante o leitor notar que um espaço métrico não é um conjunto, mas é uma “estrutura”, de tal maneira que em um mesmo conjunto podemos definir métricas diferentes, i.e., . Aos elementos de um espaço métrico chamaremos pontos, independentemente da natureza destes ojectos, sejam eles objectos do nosso mundo físico ou abstractos.
O axioma 1 na definição estabelece o facto evidente que a distância entre dois objectos nunca é negativa, e se ela é igual a zero é porque estes dois objectos são iguais. O axioma 2 também é intuitivo, quer dizer, a distância entre dois objectos e
é a mesma que a distância entre
e
.
Já o axioma 3 é bastante conhecido desde a Geométria elementar e dos três é o menos intuitivo.
Do axioma 3 obtemos por indução a desigualdade triângular generalizada:
Um subespaço de um espaço métrico
é obtido se tomarmos o subconjunto
e restringirmos
a
, assim a métrica em
é a restrição
Comentário 2 A partir de agora, quando não houver perigo de confusão designaremos o espaço métrico pela letra |
— 1.1. Exemplos de Espaços Métricos —
Consideremos alguns exemplos de espaços métricos.
Exemplo 2 1. O conjunto dos Números Reais Esta é com certeza a distância mais famosa em matemática, pois quase toda a análise elementar é feita usando esta métrica e é também bastante intuitiva, vamos provar que os números reais com essa distância é de facto um espaço métrico. Demonstração: (i) Vamos verificar o primeiro axioma, o que é evidente pela definição de módulo. Resta demosntrar a segunda parte do axioma 1, temos então a reciproca é evidentemente verdadeira, se tomarmos (ii)O segundo axioma também é simples de demontrar, (iii)Para demosntrarmos a desigualdade triângular vamos precisar da desigualdade triângular nos reais, i.e., Fazendo uso de um pequeno artifício temos, Então, assim demosntramos que o par Por exemplo se tomarmos dois números quaisquer na recta real,
2. O espaço métrico discreto Vamos mostrar que
3. Métricas sobre o
4. O espaço O par
5. O espaço das sequências limitadas tal que onde onde
6. O espaço onde |
É claro que existem muitos espaços métricos, e como já sabemos sobre um mesmo conjunto podemos definir muitas métricas. Temos também exemplos de como provar se uma aplicação é ou não uma métrica, resta-nos emfim mostrar uma maneira simples de mostrarmos que uma dada aplicação não é uma métrica.
Comentário 4 Em geral, ao tentarmos provar que uma dada aplicação não é uma métrica sobre um conjunto, devemos tentar dar um contraexemplo que demonstre que pelo menos um dos axiomas da (Definição 1.1) não é satisfeita. |
Exemplo 3 Demonstrar que a aplicação não é uma métrica sobre o que é obviamente falso, logo |
Assim chegamos ao fim de nossa primeira aula de Introdução à Análise Funcional, não se esqueçam de resolver os problemas abaixo e em caso de dúvidas nos contactar a partir do blog deixando um comentário, antes da próxima aula postaremos a solução dos problemas.
Problemas Propostos
Exercício 1 Mostre que a aplicação |
Exercício 2 Das aplicações definidas abaixo, demonstre quais delas define uma métrica e para as que não definem dê um contraexemplo:
|
Exercício 3 Seja |
Exercício 4 Usando a desigualdade triângular mostre que
|
Bom dia pessoal eu só novo na matéria
E gostaria de aprender a resolver uma P.G e uma P.A por favor 🙏
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