Equações Diferenciais Ordinárias – aula 1
Equações Diferenciais Ordinárias
Com a descoberta do cálculo de forma independente no século 17 por Newton e Leibniz, seguiu-se uma nova abordagem a certos problemas que anteriormente pareciam insoluveis. Notou-se que estes problemas levavam a certos de equações em que as taxas de variação das grandezas a determinar dependiam de outras (geralmente do tempo), assim surgiram as primeiras equações diferenciais ordinárias.
Uma equação diferencial é uma equação que envolve derivadas de uma função desconhecida de uma ou mais variáveis. As equações diferencias ordinárias (EDOs) são equações diferencias que dependem de uma única variável. Elas são enormemente útilizadas em Modelagem na industria, principalmente nas áreas de Engenharia, Física, Ciências da Computação, Biologia, Medicina, Ciências Ambientais, Química, Economia e em outros campos que traduzem uma determinada situação física ou um conjunto de observações para um “modelo matemático”.
Existem numerosos exemplos da Engenharia (e.g. problemas de mistura), Física (e.g. lei de resfriamento de Newton, equação de Darcy para meios porosos), Biologia (e.g. sistemas predador-presa ou modelo de Lotka-Volterra) etc..
— 1. Equações Diferenciais Ordinárias Lineares de 1ª Ordem —
— 1.1. Definição e Conceitos Iniciais —
Definição 1 Uma EDO é uma equação com uma ou mais derivadas de uma função desconhecida onde |
O termo ordinária significa que todas as derivadas são tomadas em relação a uma única variável independente ““.
Exemplo 1 |
Comentário 1 É conhecida do cálculo a notação |
Ao contrário das EDOs, as EDPs (Equações Diferenciais Parciais) são equações onde ocorrem as derivadas de uma função desconhecida de uma ou mais variáveis.
Exemplo 2 A equação do calor
onde |
Uma EDO é dita ser de ordem se a
-ésima derivada da função a determinar
é de ordem
.
Exemplo 3
|
Comentário 2 Em geral, uma EDO estabelece a relação entre duas grandezas, mas existem casos em que para relacionarmos estas duas grandezas existe uma terceira, nestes casos a identidade a seguir é bastante útil
onde |
Muitas vezes, uma EDO como a (Equação 1) pode ser apresentada da seguinte forma, chamada de forma normal:
Exemplo 4 A équação |
Definição 2 Uma EDO é dita ser linear se pode ser escrita na forma
onde |
Exemplo 5 |
Definição 3 Uma solução de uma EDO de ordem |
Exemplo 6 Verifique que |
Comentário 3 A curva (ou gráfico) da solução de uma EDO é geralmente chamada de curva solução. |
Exemplo 7 Seja a equação |
Normalmente uma EDO possui infinitas soluções aparecendo geralmente como uma função dependente de uma constante, a qual chamamos de solução geral. Mas em problemas prácticos nós estamos interessados simplesmente em soluções que satisfaçam certas condições iniciais, chamadas de soluções particulares.
Definição 4 Um Problema de Valor Inicial, ou condições iniciais, é um problema que busca determinar uma solução de uma EDO sujeita a condições sobre a função desconhecida e suas derivadas especificadas em um valor da variável independente. |
Exemplo 8 A equação diferencial do exemplo anterior pode ser simplificada se nós buscarmos apenas as soluções que satisfaçam determinada condição (dita condição inicial), e.g., |
Cada vez que se formula um PVI, existem três perguntas em relação a este que devem ser feitas:
- Existência.Existe uma solução da equação diferencial que satisfaça as condições dadas?
- Unicidade.Se existe uma solução que satisfaça a equação, ela é única?
- Estabilidade. A solução depende continuamente dos dados?
As condições acima são chamadas de condições de Hadamard, qualquer PVI que satisfaça as três condições acima é dito ser um problema bem proposto.
Exemplo 9 Consideremos o famoso PVI
temos que a solução geral é
Podemos observar que |
Comentário 4 As soluções que não podem ser obtidas mediante uma escolha qualquer de |
Por hoje nós ficamos por aqui, a partir da proxima aula vamos analisar algumas consequências derivadas do exemplo acima e também o método das isoclinas e outras interpretações geométricas, lista de problemas para esta aula vem a seguir a este post, qualquer duvida ou comentário contacte-nos.
Análise Funcional – Aula I
Introdução à Análise Funcional
A Análise Funcional é um ramo da Matemática abstracta que é basicamente uma junção de Teória da Medida e Integração, Topologia e Álgebra Linear em espaços de dimensão infinita. Ela originou-se a partir de trabalhos em equacções diferenciais Parciais, Equações Integrais e da necessidade de se dar um tratamento mais rigoroso ao estudo dos espaços de funções no século XX.
Ela oferece-nos uma generalização de muitos conceitos de análise em e de outros espaços topológicos e têm servido de base para muitas outras áreas da Matemática Moderna. Durante o século XX matemáticos observaram que problemas de diferentes áreas muitas vezes exibiam propriedades comuns, este facto foi usado para a criação de uma abordagem unificada abstendo-se de uma análise local para a obtenção de resultados gerais dos quais os resultados particulares seguiriam.
Uma das maiores descobertas (ou criação de preferirem) do século XX foi a noção de espaço abstracto em Matemática, devido principalmente a M. Fréchet e F. Hausdorff, que pode ser visto como o culminar de uma onda crescente de abstracção que invadira a Matemática já algum tempo e que teve o seu climax, com justeza, na criação das maiores joias da Matemática.
— 1. Espaços Métricos —
Desde os pimordios da civilização moderna, o homem vem se aperfeiçoando na criação de instrumentos de medida como meios de ajuda na execução de tarefas as quais se propõe realizar. Dentre estes, o cálculo de distâncias sempre foi um dos principais objectivos. Hoje, nós geralmente usamos uma fita métrica para medirmos a distância entre dois objectos, ou podemos fazer uso do teorema de Pitágoras que basicamente nos permite medir a distância entre dois pontos num plano Cartesiano com eixos e
, ou ainda generalizarmos ao introduzirmos uma componente
, passando a ser uma fórmula para medirmos distâncias no espaço (pelo menos o nosso espaço!).
Mas nós nos perguntamos, afinal o que é o espaço? Muitas pessoas normalmente confudem o espaço sideral, isto é, a zona onde se encontram as estrelas e outros corpos celestes com a noção de espaço em si, uma definição simples e um pouco baseada no senso comum é a de que o espaço é o local onde se encontram os objectos, ele é tomado essencialmente como algo no qual estamos imersos, é uma estrutura invisivel que nos engloba não somente a nós, como também todo o universo, uma imagem mental seria a de uma esfera na qual tudo está contido, até porque o universo seria a propria esfera.
No século XX, em Física, com a teoria da geral da relatividade de A. Einstein surge a noção de espaço-tempo, i.e., uma entidade quadridimensional, mostrando assim que as noções de espaço e tempo são essencialmente as mesmas, elas são inseparáveis, conceito esse que é muitas vezes mal compreendido pelas pessoas.
Para um Matemático, o espaço é um conjunto de pontos, é importante notarmos que, embora nós olhemos para o vazio, aparentemente sem nada, na verdade ele está prenchido por pontos, esta noção embora primitiva pode nos ajudar a ganharmos uma pequena intuição para uma generalização.
De uma forma mais rigorosa, em Matemática, um espaço é um conjunto arbitrário munido de uma estrutura. De maneira mais informal, é um conjunto de objectos de qualquer natureza no qual definimos uma estrutura. É importante notarmos que não importa a natureza dos objectos que constituam o conjunto, desde que definamos nele uma estrutura, ele passará a ser um “espaço”.
Exemplo 1 É bem conhecida a noção em Álgebra Linear de Espaço Vectorial, i.e., um conjunto |
É importante notarmos bem os conceitos acima, em Matemática conceitos que nos parecem muito corriqueiros muitas vezes não são o que parecem! Desta forma podemos passar ao passo seguinte que é a introdução da noção de espaço métrico.
Definição 1 Um espaço métrico
|
Comentário 1 Muitas vezes com um abuso de notação obvio, se diz que |
É importante o leitor notar que um espaço métrico não é um conjunto, mas é uma “estrutura”, de tal maneira que em um mesmo conjunto podemos definir métricas diferentes, i.e., . Aos elementos de um espaço métrico chamaremos pontos, independentemente da natureza destes ojectos, sejam eles objectos do nosso mundo físico ou abstractos.
O axioma 1 na definição estabelece o facto evidente que a distância entre dois objectos nunca é negativa, e se ela é igual a zero é porque estes dois objectos são iguais. O axioma 2 também é intuitivo, quer dizer, a distância entre dois objectos e
é a mesma que a distância entre
e
.
Já o axioma 3 é bastante conhecido desde a Geométria elementar e dos três é o menos intuitivo.
Do axioma 3 obtemos por indução a desigualdade triângular generalizada:
Um subespaço de um espaço métrico
é obtido se tomarmos o subconjunto
e restringirmos
a
, assim a métrica em
é a restrição
Comentário 2 A partir de agora, quando não houver perigo de confusão designaremos o espaço métrico pela letra |
— 1.1. Exemplos de Espaços Métricos —
Consideremos alguns exemplos de espaços métricos.
Exemplo 2 1. O conjunto dos Números Reais Esta é com certeza a distância mais famosa em matemática, pois quase toda a análise elementar é feita usando esta métrica e é também bastante intuitiva, vamos provar que os números reais com essa distância é de facto um espaço métrico. Demonstração: (i) Vamos verificar o primeiro axioma, o que é evidente pela definição de módulo. Resta demosntrar a segunda parte do axioma 1, temos então a reciproca é evidentemente verdadeira, se tomarmos (ii)O segundo axioma também é simples de demontrar, (iii)Para demosntrarmos a desigualdade triângular vamos precisar da desigualdade triângular nos reais, i.e., Fazendo uso de um pequeno artifício temos, Então, assim demosntramos que o par Por exemplo se tomarmos dois números quaisquer na recta real,
2. O espaço métrico discreto Vamos mostrar que
3. Métricas sobre o
4. O espaço O par
5. O espaço das sequências limitadas tal que onde onde
6. O espaço onde |
É claro que existem muitos espaços métricos, e como já sabemos sobre um mesmo conjunto podemos definir muitas métricas. Temos também exemplos de como provar se uma aplicação é ou não uma métrica, resta-nos emfim mostrar uma maneira simples de mostrarmos que uma dada aplicação não é uma métrica.
Comentário 4 Em geral, ao tentarmos provar que uma dada aplicação não é uma métrica sobre um conjunto, devemos tentar dar um contraexemplo que demonstre que pelo menos um dos axiomas da (Definição 1.1) não é satisfeita. |
Exemplo 3 Demonstrar que a aplicação não é uma métrica sobre o que é obviamente falso, logo |
Assim chegamos ao fim de nossa primeira aula de Introdução à Análise Funcional, não se esqueçam de resolver os problemas abaixo e em caso de dúvidas nos contactar a partir do blog deixando um comentário, antes da próxima aula postaremos a solução dos problemas.
Problemas Propostos
Exercício 1 Mostre que a aplicação |
Exercício 2 Das aplicações definidas abaixo, demonstre quais delas define uma métrica e para as que não definem dê um contraexemplo:
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Exercício 3 Seja |
Exercício 4 Usando a desigualdade triângular mostre que
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