No artigo anterior demos os primeiros passos nos métodos matemáticos da Mecânica Clássica. É objectivo deste artigo introduzimos alguns conceitos físicos e complementarmos as ferramentas matemáticas apresentadas no primeiro artigo.
— 8. Coordenadas curvilíneas —
Por vezes usar coordenadas cartesianas para descrevermos o movimento de uma partícula não é o mais eficiente e optamos por utilizar um sistema de coordenadas mais adequado ao movimento em questão e temos que utilizar coordenadas curvilíneas. Os sistemas utilizados de forma mais frequente são os sistemas de coordenadas polares, cilíndricas e esféricas.
— 8.1. Coordenadas polares —
Quando estamos a estudar sistemas a duas dimensões que exibem uma simetria circular a melhor maneira de proceder é usando coordenadas polares.
Neste sistema de coordenadas em vez de usarmos e
, usamos uma coordenada radial
que expressa a distância entre um dado ponto e a origem e uma coordenada angular
. Esta coordenada angular é igual ao ângulo entre o eixo
e a posição da partícula medida no sentido contrário aos ponteiros do relógio.
A coordenada radial varia entre e a coordenada angular varia entre
. Notem que para
o ângulo
não está definido e assim a origem é neste sistema de coordenadas uma espécie de singularidade, mas tal deve-se à nossa escolha de sistema de coordenadas e não é intrínseca ao ponto em si.
E como se pode ver na imagem as equações para as transformações de coordenadas são:
— 8.2. Coordenadas Cilíndricas —
Ao estudarmos alguns sistemas tridimensionais muitas vezes somos confrontados com um sistema que exibe uma simetria circular em torno de um dado eixo. Nestes casos o sistema de coordenadas que nos permite escrever as equações de uma forma que a simetria do sistema é patente é o sistema de coordenadas cilíndricas.
Mais uma vez estaremos a usa uma mistura de distâncias radiais e distâncias angulares. Em primeiro lugar vamos somente considerar o plano formado pelos eixos e
. Vamos usar este plano para projectar o vector posição de um ponto. O ângulo entre
e esta projecção é
. As outras duas coordenadas são
que é a distância entre o ponto em questão e a origem e
(ou
).
Estas três coordenadas tomam valores nos seguintes intervalos:
Como está indicado na imagem as equações para as transformações de coordenadas são:
— 8.3. Coordenadas esféricas —
O último tipo de coordenadas curvilíneas que vamos considerar são as coordenadas esféricas. Este tipo de coordenadas são extremamente úteis quando o sistema em estudo exibe uma simetria circular em torno de três eixos ortogonais entre si.
Desta vez vamos usar uma coordenada radial e duas coordenadas angulares. Tal como fizemos para as coordenadas cilíndricas vamos projectar o vector posição no plano formado pelos eixos e
e definimos
como sendo o ângulo entre
e a projecção do vector posição.
é a distância entre a origem e o ponto em questão e
é medido entre
e o vector posição.
Como podemos ver pela imagem as equações de transformações de coordenadas são:
Estas três coordenadas tomam valores nos seguintes intervalos:
— 9. Cálculo Vectorial —
Nesta secção do nosso artigo vamos olhar brevemente para algumas noções do Cálculo Vectorial que são úteis para a Física.
— 9.1. Gradiente, Divergência e Rotacional —
Se é uma função escalar, contínua e diferenciável, já sabemos que é
. Desta definição segue que
A transformação inversa de coordenadas é . Calculando a derivada de
em ordem a
é
Assim é
Pelo que vimos no artigo anterior isto significa que a função é a componente
de um vector.
Se introduzirmos o operador (às vezes chamado de del) cuja definição é
podemos definir o gradiente de uma função escalar como sendo
A divergência de um campo escalar, , é também um escalar e por definição é:
Se a divergência de um campo vectorial é positiva num dado ponto tal significa que o ponto em questão é uma fonte do campo. Se a divergência é negativa num ponto então estamos na presença de um sorvedouro do campo vectorial.
Outra entidade vectorial que podemos definir com o operador é o rotacional de um campo vectorial:
O último operador que vamos definir nesta secção é o Laplaciano. Este operador é o resultado de aplicarmos duas vezes o operador :
— 9.2. Integração de vectores —
Quando estamos a lidar com a operação matemática de integração com vectores temos três hipóteses básicas:
- Integral de volume
- Integral de superfície
- Integral de linha
O resultado de integrarmos um vector, , ao longo de um volume é também um vector e o resultado é:
Assim para calcularmos o integral de volume de um campo vectorial devemos integrar cada dimensão espacial separadamente.
O resultado de integrarmos a projecção de um campo vectorial ao longo de uma superfície é chamado de integral de área.
Um integral de área é sempre calculado utilizando a componente normal de ao longo de uma superfície
. Assim em primeiro lugar devemos sempre definir a normal da superfície num dado ponto. A normal é representada por
e temos sempre a ambiguidade de poder escolher duas possíveis direcções ambiguidade que é resolvida ao definirmos a normal como sendo a que aponta na direcção exterior da superfície.
O que temos que calcular é com:
O integral de linha é definido ao longo da curva entre dois pontos e
. Mais uma vez temos que considerar a normal de
, sendo que desta vez o que estamos a calcular é:
é o elemento de caminho em
e define-se como sendo positivo no sentido em que o caminho é definido.